domingo, 27 de novembro de 2011

EDUCAÇÃO! Metade dos estudantes de 14 anos tem mais estudo do que as mães.

Essa diferença de nível educacional pode causar problemas dentro de casa: como as mães devem agir quando o filho tem dúvida na lição de casa, mas elas não sabem como responder?


Uma pesquisa mostra que metade dos jovens brasileiros de 14 anos já tem mais estudo que as mães. Essa diferença de nível educacional pode causar problemas dentro de casa: como as mães devem agir quando o filho tem dúvida na lição de casa, mas elas não sabem como responder? 

Lucas Mateus de Souza, de 15 anos, está terminando o 1º ano do Ensino Médio em uma escola estadual da Zona Sul de São Paulo. É bom aluno. “Tenho que ser”, diz o adolescente. Mas estuda todos os dias depois das aulas. Ele ajuda o primo mais novo, Gustavo, principalmente em matemática. “Muitas coisas que a mãe dele não sabe”, explica Lucas. “Não faço nem ideia”, diz a mãe de Gustavo. 

Tanto Lucas quanto Gustavo já estudaram mais que as mães deles. No Brasil, mais da metade dos estudantes de 14 anos atingiram ou passaram a escolaridade das mães. É o que mostra um levantamento exclusivo da ONG Todos Pela Educação e da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). 

Os resultados principais comparam o nível educacional dos filhos com o das mães, e não com o dos pais, porque é mais frequente que elas morem com as crianças. “Eu venho sempre com meu livro, pego o livro dele e procuro ajudar. Coisa que a mãe dele não consegue ensinar, tenho que estar procurando ensinar”, diz Lucas. 

A solução familiar veio agora, perto das provas finais. “Ele precisava passar de ano”, diz Lucas. “Não precisava, precisa”, rebate a mãe de Gustavo. 

A pesquisa mostra que, nas escolas públicas, 57% dos alunos de 14 anos têm escolaridade igual ou maior que a das mães. Nas particulares, são só 11%. Todos os alunos de uma sala de aula visitada pelo Fantástico, com cerca de 30 adolescentes entre 14 e 15 anos, já estudaram hoje mais do que as mães deles. Quando perguntados se alguém já teve alguma dificuldade em casa quando precisou fazer a lição, vários levantam as mãos. 

“Já tive dificuldade. Era para fazer uma prova, aí fui procurar orientação da minha mãe. Só que ela não pode me ajudar porque só estudou até a 6ª série. Então, ela me orientou a procurar ajuda do meu irmão. Procurei e ficou tudo certo”, conta Luana Santos, de 15 anos. 

A repórter pergunta se alguém na sala de aula tem mãe que não sabe ler nem escrever. “Eu. É difícil. Quando a gente vai sair, minha mãe não sabe pegar um ônibus. Isso me deixa um pouco envergonhado. Eu gostaria que isso mudasse um dia”, responde Alessandro Dalysson, de 14 anos. 

Tem gente que se diverte com a vantagem que leva em casa. “Eu digo: ‘Ó, mãe! Sei mais que você’”, se diverte Joyce de Almeida Silva, de 14 anos. 

Mas, segundo especialistas, os pais não precisam saber o conteúdo ensinado na escola para ajudar na educação dos filhos. “Muitos pais pensam que a melhor forma de contribuir é corrigir a lição, fazer a lição ou controlar a lição, e isso é um mito. Outras formas de contribuição são até mais importantes, como, por exemplo, trazer para as crianças e para os jovens a ideia da importância da vida escolar e a valorização do conhecimento”, observa Silvia Colello, professora de educação da Universidade de São Paulo (USP). 

Mas os pais também têm suas tarefas: Não vá à escola apenas quando seu filho tem problemas; procure conhecer professores, coordenadores e colegas; frequente reuniões e até festinhas; e ajude seu filho a se organizar e a dedicar um tempo em casa para os estudos. “Ir à biblioteca, ir em exposições, visitar centros culturais, participar de iniciativas da comunidade. Tudo isso complementa o trabalho da escola”, garante Silvia Colello. 

Se não souber responder uma dúvida, oriente a criança a procurar em livros, dicionários e até na internet. A auxiliar de limpeza Lucimar Pereira da Conceição tinha estudado até a 4ª série. Seu filho mais velho está na 5ª, mas desde o começo do ano ela frequenta aulas para adultos. “Voltei a estudar no motivo. Às vezes meus filhos precisam de ajuda e eu não tenho como ajudar, porque eu não sei”, conta Lucimar. 

A dona de casa Vera Lúcia Nunes tem cinco filhos e também voltou para a escola, em Bauru, no interior de São Paulo. Agora, fica de olho no que o mais novo está estudando. “Eu não sabia o que eles estavam escrevendo, porque eles estavam aprendendo na escola. Acompanho, dou bronca, principalmente quando as notas estão baixas”, diz ela. 

A pesquisa mostra um avanço na escolaridade das mães nos últimos anos. Em 2001, mais alunos de 14 anos tinham alcançando as mães nos estudos. Eram 61% contra os 51% de 2009, os dados mais recentes. 

“O Brasil evoluiu nesses últimos dez anos, cresceu dois anos a mais o tempo de escolaridade, o número de anos de escolaridade média da população brasileira. Mas nós temos ainda um grande percentual, principalmente os grotões mais distantes dos grandes centros, nos interiores do Brasil. Crianças que chegam aos 14 anos sabendo muito mais do que os seus pais”, observa Mozart Neves Ramos, conselheiro da ONG Todos Pela Educação. 

A auxiliar de limpeza Lucimar Pereira da Conceição diz que quer uma vida diferente para os filhos. “Eu quero ajudar, quero estudar e conseguir coisa melhor na minha vida para dar um futuro melhor para eles”, afirma ela. 

O adolescente Lucas Mateus de Souza já sabe o que quer do seu. “Eu quero fazer engenharia mecatrônica”, conta ele. “Eu não sabia o que era, não tinha a mínima ideia. Aí fui pesquisar na internet”, explica a mãe do menino, a vendedora Rosângela de Sousa Coelho. Lucas sonha com uma das mais importantes universidades do mundo. “Eu quero fazer faculdade em Harvard”, diz ele. “Eu estou falando que ele quer muito! Ele sonha muito alto”, orgulha-se a mãe.

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